sábado, 30 de novembro de 2013

Um dilúvio universal*



Resumo
            O artigo está dividido em duas partes: (1) Evidências Bíblicas de um Dilúvio Mundial e (2) Evidências do Dilúvio no Mundo Natural.  Na primeira parte, o autor analisa o tempo dispendido para contruir uma arca grande o suficiente para abrigar as espécies de animais a serem preservadas.  A existência de um único continente pré-diluviano é outro aspecto abordado.  Esta configuração terrestre facilitaria a reunião dos animais.  Notável é a menção feita por Jesus ao dilúvio, o que lhe valida a fidedignidade histórica.  Na segunda parte, o autor procura demonstrar que os “cemitérios fósseis falam de morte por atacado”.  A formação de enormes jazidas de carvão mineral e petróleo; o encaixe dos continentes; fósseis de vegetais e animais aqüáticos em montanhas elevadas e árvores petrificadas são outros argumentos apresentados pelo autor a favor de um dilúvio mundial.

Abstract


     A Bíblia trata do Dilúvio como um acontecimento literal, histórico e de extensão global no planeta Terra.

Evidências Bíblicas de um Dilúvio Mundial


     Em suas páginas se menciona um período breve para o Dilúvio acerca do qual  se proporcionam informações no livro do Gênesis. “Segundo o texto hebraico deste livro bíblico, desde a criação de Adão até o Dilúvio transcorreram 1656 anos. Na versão grega conhecida como Septuaginta se indica um lapso de 2262 anos até o cataclismo diluviano. Em ambos textos se proporcionam as datas que indicam que o Dilúvio teve uma duração de um ano e dez dias ( Gen. 7:11; 8:14 a  19). 1
     Pode- se reconhecer pela quantidade de espaço que o autor do livro deu ao assunto do Dilúvio, que este foi um evento de grande importância na história. “ No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram. A data precisa, com sua falta de simbolismo óbvio, traz as marcas de um fato real bem lembrado”.2
     Os primeiros capítulos do Gênesis tratam de assuntos universais como a Criação, a Queda, a Tábua das Nações, a Corrupção dos seres humanos e a Dispersão da Humanidade. Inserido nestes primeiros  onze capítulos encontra-se o assunto do Dilúvio constituindo evidência favorável para um cataclisma universal.
     Os preparativos que Noé fez para o Dilúvio indicam a grandeza e extensão do mesmo.
     De acordo com as instruções de Deus a Arca devia ser planejada de modo que se lhe garantissem não tanto a mobilidade como a capacidade de carga e estabilidade na flutuação.   
     “ Quanto as dimensões seriam estas:300 cúbitos de comprimento , 50 cúbitos  de largura e 30 cúbitos de altura. Admitindo que o cúbito equivalia a 48 cm ( não se pode afirmar qual era a medida exata, mas esta é das menores sugeridas pelas autoridades no assunto) a capacidade total da arca era de aproximadamente 426.720 metros cúbicos. O equivalente a 522 veículos próprios para o transporte de animais do padrão usual em nossas estradas modernas”.3
     Ela deveria abrigar e salvar sete casais de todas as aves e animais limpos e um casal de cada ave e animal imundo ( ver Gen. 7: 2 e 3).
     “Os entendidos calculam que há menos de 18.000 espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios no mundo hodierno. Mesmo supondo que as espécies biológicas sejam iguais às mencionadas em Gênesis (na maioria, a espécie mencionada em Gênesis era uma unidade de maior âmbito em comparação com as classificações biológicas modernas), e supondo que o porte médio das espécies seja o de uma ovelha (estimativa que oferece ampla margem de segurança), pode-se calcular que a capacidade da Arca era sobejamente grande para sua finalidade. Sabe-se que um veículo apropriado pode transportar perto de 240 ovelhas, de modo que 150 desses veículos seriam suficientes para o transporte de 36.000 animais desse porte. Ora, isso representa menos de um terço do tamanho da Arca.”4
     Não está fora de cogitação que Noé teria construído um barco do tamanho da Arca, necessitando de uma quantidade imensa de madeira, e de muitíssima mão de obra, se o Dilúvio fosse apenas uma enchente local, podendo as pessoas e os animais fugir para lugar seguro?
     O Dilúvio apresentado na Bíblia, contraria a teoria de uma inundação local.
     “Se o Dilúvio foi somente um dilúvio local ou regional, seria loucura gastar 120 anos para preparar uma arca suficientemente grande para carregar animais do mundo inteiro”.5
     O registro sagrado declara que o Dilúvio cobriu os topos das mais altas montanhas ( Gen. 7:19 e 20) e que esta situação prevaleceu somente dez meses (8:5) depois do começo do Dilúvio.
     “Se as montanhas tinham a mesma elevação como agora, como a teoria do dilúvio-local assume, as águas foram no mínimo a 17.000 pés de altura ( o monte Ararat, no qual a  Arca repousou, é esta altura) por um período de no mínimo 9 meses. Ao requerer como uma condição para um dilúvio-local impõe-se uma demanda hidráulica impossível na água envolvida.”6
     É evidente que um dilúvio que pode cobrir montanhas de 17.000 pés de altura não pode ser um dilúvio local e tranqüilo.
     Insistem alguns defensores do dilúvio tranqüilo que o dilúvio foi circunscrito a Ásia onde Noé estava e que ele descreveu como “todas”apenas as montanhas que ele pôde ver. Entretanto, como veremos adiante, “evidência indica que Sibéria, Alaska, Europa, e América do Norte todos foram envolvidos naquela grande catástrofe. Evidência da Austrália e outras partes indicam que partes do sul do mundo foram também envolvidas”.7
     Um modelo começa com uma premissa básica. A Evolução por exemplo levanta-se do princípio que leis naturais e eventos podem explicar todas as coisas incluindo a origem da vida.
     O criacionista especial e o diluvionista no entanto, começam com a premissa que a mente humana é finita ou está em desvantagem. Por causa das limitações do homem ele não pode aprender algumas coisas exceto através do processo especial chamado Revelação.
     Embora Moisés pôde contar com a tradição oral para descrever os fatos do Dilúvio devemos lembrar que ele era um autor inspirado e que dependia da Revelação divina. A Noé foi revelado a vinda do Dilúvio e os preparativos que deveria fazer.
     “A supernatural revelação concedida a Noé referente a Arca, um século antes do Dilúvio, serve para enfatizar o fato que o Dilúvio foi não um mero evento natural na história da Terra”.8
     Alguns críticos tentam colocar em dúvida o Dilúvio universal a partir de perguntas como esta: “como teriam viajado os cangurus da Austrália para entrar na arca de Noé?”
     Possivelmente da mesma maneira como chegaram lá.
     “Uma grande faixa de terra aparentemente conectava Ásia e Austrália no imediato período pós-Dilúvio. Durante esta mais intensa fase da era do gelo vastas quantidades de água foram fechadas nas regiões polares de tal modo que os níveis dos oceanos eram centenas de pés mais baixos do que eles são agora”.9
     Outros acham que Noé colocou na Arca apenas os animais domésticos, e que isso resolveria uma série de problemas tais como abrigar as altas girafas, os enormes elefantes e os felinos selvagens.
   O propósito divino, porém em enviar o Dilúvio era amplo: “Disse  o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me  arrependo de os haver feito”.Gen.6:7.
    Como se cumpriria o propósito divino se Noé houvesse recebido na Arca apenas animais domésticos?
     O Dilúvio, contudo, não foi enviado apenas com o propósito de destruir, mas de separar e manter na terra homens piedosos (ver Gen. 6:8 e 9).
     Após o Dilúvio, Deus segue a intenção original de abençoar a humanidade (ver Gen. 9:l) procedendo como que uma segunda criação.
     Um dos mais difíceis problemas para serem enfrentados por aqueles que negam que o Dilúvio foi universal é o concerto que Deus fez com Noé após o Dilúvio ter terminado.
     “Se o Dilúvio destruiu somente uma parte da raça humana, então aqueles que escaparam das águas do Dilúvio não foram incluídos no concerto do arco-íris. Somente com respeito aos descendentes de Noé teriam os pássaros, bestas e peixes temor e medo (Gen. 9:2); eles somente seriam proibidos de comer carne com o sangue (9:3-4); e eles somente teriam a autoridade de tomar a vida (9:5 e 6)”.10
     As Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamento consistentemente referem-se ao Dilúvio em um modo mais apropriado para um evento histórico (ver Isa. 54:9; Heb.11:7;I Pe 3:20 e II Pe 2:5).
     Cristo considerou-o como um acontecimento histórico ( ver Mat.24:37-39; Luc. 17:26 e 27).
     “Se ele era um mito religioso, e Ele reconheceu-o como fato, Ele fez declarações enganosas. Entretanto, Ele apelou para o Dilúvio como um fundamento histórico ou paralelo para um ponto que Ele desejava alcançar”.11
     Se o Dilúvio não foi real e universal; a partir do momento em que Jesus  assim o apresentou, colocou em risco a credibilidade dos Seus ensinos quanto a  realidade do maior evento da História: Sua Segunda Vinda em glória e majestade.
     A Segunda Vinda do Senhor será universalmente visível, gloriosa e audível ( ver Mat. 24:27,30 e 31; Apoc. 1:7).
     Alguns intérpretes precipitadamente concluem pela leitura de Mateus 24:38 e 39 que a vinda do Senhor será secreta e não percebida pela maioria das pessoas do mundo, mas é exatamente o contrário oque Jesus ensinou fazendo um paralelo com o Dilúvio. “Portanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam senão quando veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem”.
     O que a geração de Noé não percebeu, não foi a chegada  do Dilúvio, mas  obviamente o momento em que finalmente a oportunidade de salvar-se passou e a porta da Arca foi fechada. Assim, o mundo inteiro será tomado de surpresa pois a porta da graça será fechada em hora que ninguém sabe, e como o Dilúvio “levou a todos, assim será também a vinda do Filho do homem” (vers. 39).
     Afirma o apóstolo Pedro que enquanto o mundo foi uma vez destruído pela água, um segundo dilúvio, desta vez de fogo purificará a terra do pecado (ver II Ped. 3:7).
     “Unindo-se os raios do Céu com o fogo na Terra as montanhas arderão como uma fornalha, e derramarão terríveis correntes de lava, submergindo jardins e campos, vilas e cidades. Massas fervilhantes derretidas, ao serem arremessadas nos rios farão com que as águas entrem em ebulição  arremetendo rochas maciças com indescritível violência e espalhando seus fragmentos sobre a terra. Rios tornar-se-ão secos. A Terra se convulsionará; por toda  a parte haverá tremendos terremotos e erupções. Assim destruirá Deus os ímpios da Terra. Mas os justos serão preservados destas comoções, como o foi Noé na arca”.12
     

Evidências do Dilúvio no Mundo Natural


     As rochas e os fósseis providenciam a mais conhecida fonte de evidência para o    teste do Dilúvio.
 l-Cemitérios fósseis: “Cemitérios fósseis falam de morte por atacado. A cama de ossos de Agate Springs; Nebraska, contém uma confusão de ossos de milhares de mamíferos incluindo rinocerontes, camelos, porcos gigantes, e outros animais que viviam não muito distante da área. Os ossos e as rochas circunvizinhas têm indicações que água depositou-lhes depois que os corpos tinham decaído suficientemente para as correntes arrancar-lhes as partes. Na Cicília, tem depósitos de ossos de hipopótamos tão extensivamente que pessoas têm extraído deles como uma fonte de carvão comercial.”13
          
2-Camadas Descobertas: “No Grand Canyon e em muitas áreas circunvizinhas que sofreram profundas erosões, podemos ver camada sobre camada de depósitos bem abaixo do leito de granito assentado no fundo. As camadas vistas nas erosões profundas do Grand Canyon correspondem a grandes áreas contínuas subterrâneas conforme mostra o fundo dos poços de petróleo. Parece que elas estão na mesma ordem onde quer que apareçam. As camadas finas podem se estender por centenas de quilômetros no território. Em todo o lugar há evidência de que no passado houve uma ação global da água. O quadro de um Dilúvio universal é  o único que nos serve como modelo”..14

3-A Formação do Carvão e do Petróleo: As estimadas sete trilhões de toneladas de carvão da Terra oferecem outra forma de suporte para o paradigma do Dilúvio. “Nesse tempo imensas florestas foram sepultadas. Estas foram depois transformadas em carvão formando as extensas camadas carboníferas que hoje existem, e também fornecendo grande quantidade de óleo”.15

4-As Atividades Vulcânicas e Sísmicas: “O carvão e o  óleo freqüentemente se acendem e queimam debaixo da terra.  Assim as rochas são aquecidas, queimada a pedra de cal, e derretido  o minério de ferro. A ação da água sobre a cal aumenta a fúria do intenso calor, e determina os terremotos, vulcões e violentas erupções”.16

5-Depósitos Vulcânicos de Quantidade sem Paralelo: Devemos lembrar que o Senhor fez “romperem-se todas as fontes do grande abismo..”(Gen. 7:11). “Também houve comoções violentas tais como terremotos, atividades vulcânicas e as águas que irrompiam arrojando ao ar enormes rochas”.17
Segundo William Lovelless: “Para imaginar o que aconteceu, o que todos vocês deveriam fazer, é ir a John Day, Oregon, e fazer uma pequena escavação como os estudantes do colégio fazem cada ano. Ali você encontrará centenas de milhas quadradas de depósito vulcânico. Quando isto aconteceu? Como aconteceu? Nada há hoje semelhante. Quando um vulcão sai para fora no Sul do Pacífico ou eleva sua cabeça em algum lugar na Turquia ele aparece na primeira página. Mas é apenas um pequeno dedo em comparação ao que aconteceu quando os depósitos de John Day foram feitos”.18
Howe afirma: Ëstas rochas recentes na terra do John Day em minha opinião foram depositadas ou imediatamente após o Dilúvio de Noé ou durante o estágio final do Dilúvio”.19

6-O Encaixe de Continentes: A idéia de que  os continentes podem ser encaixados juntamente como num quebra-cabeças para formar um único supercontinente é antiga. “Especialmente interessante é como o leste da América do Sul pode encaixar-se ao sudoeste da África. Recentes investigações têm usado computadores para encaixar os continentes. Aqueles que apreciam o total encaixe dos continentes chamam de evidência “constrangedora”enquanto outros que notam vazios permanecem céticos”.20
Para Rohrer a Bíblia pode dar indício desse acontecimento: “A causa do Dilúvio de Noé é descrita em termos tectônicos:”todas as fontes do grande abismo quebraram”(Gen. 7:11). A palavra hebraica para “quebraram”é BAGA e é usada em outras passagens do Velho Testamento (Zac. 14:4; Num. 16:31) para  referir-se ao fenômeno geológico de defeito. Se a separação continental ocorreu  durante o Dilúvio de Noé, uma hoste de problemas no dilema tectônico pode ser resolvido como a grande quantidade de rochas vulcânicas nas águas do mar. Os fatos indicam que a separação dos continentes, empurrando as trincheiras dos oceanos foi realizada por rápidos processos, que não ocorrem hoje, e iniciados por um mecanismo catastrófico.”21

7-A Formação de Cadeias de Montanhas: “Em muitos lugares, colinas e montanhas tinham desaparecido não deixando vestígio do lugar em que se achavam; planícies haviam dado o  lugar a cadeias de montanhas. Estas transformações eram mais acentuadas em alguns lugares do que em outros”.22

8-Fósseis Encontrados em Montanhas:”Humboldt encontrou vários depósitos de hulha, detritos de antigas florestas e vegetais aquáticos e terrestres sepultados em Guanaco, na América do Sul, a uma altura de 13.000 pés, perto dos limites atuais das neves eternas. Encontram-se ossadas de mastodontes sobre as Cordilheiras, a uma altura de 8.000 pés. No Himalaia, avalanches de neves caíram de uma altura de 16.000 pés; arrastaram brechas ossosas  e têm-se encontrado ali segundo Lyell petrificações a 18.400 pés de altura. Encontram-se geralmente depósitos de ossadas de animais ante-diluvianos nas mais altas montanhas do mundo, Monte Branco, Himalaia e Cordilheiras”.23
     Nos rochedos e colinas do estado de Wyoming, nos Estados Unidos podemos quebrar um pedaço de rocha e  encontrar folhas de sequóia, moscas com asas estendidas, peixes, conchas demonstrando que somente um dilúvio poderia ter ocorrido para depositá-los no alto das montanhas e serem fossilizados intactamente.

9-Extinção de Numerosos Tipos de Plantas: “Referências de textos padrões em paleobotânica demonstrarão os numerosos tipos de plantas encontrados  em camadas fósseis que não são conhecidos na terra hoje. Grupos inteiros tais como as Calamites, Cordaitales, Cycadofilicales, Bennettitales, e as Caytoniales, só para mencionar uns poucos têm desaparecido”.24
A extinção de muitas espécies é exatamente o que alguém preveria se tivesse acontecido um grande dilúvio.

10-Mudanças Drásticas de Temperatura e Surgimento de Imensas Quantidades de  Gelo: Cinzas vulcânicas são muito efetivas em reduzir as radiações solares. Na parte setentrional da Califórnia em pequena área entre Feather e Pit Rivers tem 150 cones de vulcões extintos. Tal atividade na época do Dilúvio (ver item 5) pode ter absorvido o calor do sol.
     “Tem sido calculado que se nossa temperatura foi reduzida em  5 graus F do presente, providenciaria condições de umidade favoráveis   e grandes quantidades de gelo poderiam começar ao formar em montanhas e em platôs de áreas niveladas na zona temperada norte. Com a abundância de água enchendo todas as áreas continentais baixas no término do Dilúvio, com precipitações pesadas devido ao ar frio e mares quantes, com redução de radiação solar tanto como resultado de atividades vulcânicas, haveria toda razão para esperar que tremendas quantidades de água seriam seguradas como neve e gelo em regiões polares e temperadas nos continentes.”25

11-O Notável Testemunho de Darwin: Darwin e Wallace foram impressionados pela evidência de destruição em massa. Em seu jornal de pesquisas escreveu de sua admiração ao ver fósseis na América do Sul que ele visitou na viagem do Beagle em 1845. “A mente é de início irresistivelmente levada a crença que alguma grande catástrofe tem ocorrido. Para destruir animais ambos grandes e pequenos no sul da Patagônia, no Brasil, na Cordilheira, na América do Norte para o Estreito de Behring  precisamos sacudir a estrutura inteira do mundo. Certamente nenhum fato através da história do mundo é tão surpreendente como a ampla exterminação de seus habitantes.”26

12-Animais que Morreram Alimentando-se: Um dos que mais estudou os fósseis dos milhares de mamutes da Sibéria foi Howard. “Howard escreveu que tinha confirmado muitas vezes que o conteúdo dos estômagos destes gigantes tinha sido examinado cuidadosamente e mostravam conter comida ainda não digerida, composta de folhas de árvores agora encontradas no sul da Sibéria”.27

13-Esqueletos e Escamas de Peixes Fossilizados: Outra interessante evidência de rápido soterramento é vista nos esqueletos e escamas de peixes fossilizados. “Milhares de quilômetros quadrados de argila xistosa, mesclados com escamas de peixes fossilizados são encontrados nos Estados ao norte das Montanhas Rochosas ( o Xisto Mowry). Que explicação damos para os  milhões de escamas de peixes fossilizados?”28
Conclui-se que os corpos de miríades de peixes foram repentinamente e simultaneamente mortos em poucas horas tanto que  “..a carne, o fígado, o canal alimentar e outras partes ficaram inquestionavelmente intactas, quando foram lacrados pelos sedimentos.”29

14-Fósseis de Dinossauros: Centenas de pegadas de dinossauros foram encontradas nos Estados de Massachussets e Conecticut. Alguns dos melhores esqueletos de dinossauros encontram-se em museus europeus e americanos como o Museu Americano de História Natural em Nova Iorque e o Smithsonian Institution de Washington DC. “Os cientistas tem-se perguntado por muitos anos porque os ossos de dinossauros são encontrados apenas em certas camadas de rocha. A terra e areia depositadas acima dessas camadas de rocha não contém ossos de dinossauros. Parece que os dinossauros foram extintos rapidamente. Porque morreram subitamente? Essas são perguntas às quais os cientistas tem procurado responder.”30
     Um dilúvio universal pode explicar a seqüência de fósseis encontrados na coluna geológica e o misterioso desaparecimento dos dinossauros.

15-Árvores Petrificadas: Por muito tempo geólogos e paleontólogos apresentaram teorias que vistas superficialmente pareciam corretas, mas que se provaram falsas mais tarde.Entre tais teorias está aquela  conclusão que todas as árvores petrificadas encontradas em posição vertical estão em suas posições de crescimento (autóctone). Mas, “o crescimento de tantas florestas sucessivas, umas sobre as outras requer pelo menos 15.000 anos. Esta estimativa é feita tendo como base 300 anéis como o tamanho médio da árvore mais velha para cada nível, cifras conservadoras derivadas da Floresta Petrificada de Specimen Creek localizada no Parque de Yellowstone. Se usarmos estes cálculos a Specimen Petrified Forest, com mais do dobro de camadas de árvores, requereria mais de 40.000 anos”.31
Pesquisas têm demonstrado que quando o Monte Santa Helena explodiu em 1980, uma gigantesca jangada de troncos foi criada sobre a superfície do lago adjacente chamado Spirit Lake. Muitos dos troncos que flutuavam no lago, especialmente aqueles que tinham raízes ficaram em posições eretas.
“Os fósseis de árvores eretas no contexto geológico são compatíveis com o modelo do Dilúvio. Na realidade quando todos os fatores são considerados, uma catástrofe que envolve água e um grande número de árvores flutuantes, oferece uma explanação mais satisfatória para a origem delas.”32

É necessário lembrar que as provas naturais do passado que se acham à disposição dos cientistas para estudo, são de natureza subjetiva ou persuasiva. Ao estudar a natureza uniformitaristas e os diluvialistas encaram as mesmas evidências ou pontos de prova e apresentam suas respectivas interpretações.
     Dr. Frank Lewis Marsh pergunta e responde: “Qual explicação é a melhor? Isso depende de onde desejais colocar a vossa fé”.33


Nota
*Este artigo é da autoria do  Pr. Wilson Borba, Diretor de Ministério Pessoal e Escola Sabatina da Associação Planalto Central, Brasília - DF

BIBLIOGRAFIA:
l- El Universitário Adventista, Departamento de Educação da Divisão Sul Americana, 17.
2-Derek Kidner, Gênesis, introdução e comentário (São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, l985), 85.
3-Criação ou Evolução (São Paulo: Editora Fiel), 64.
4-Ibid. 65.
5-Henry M. Morris, Scientific Criacionism (San Diego, CA: Creation Life Publishers), 253.
6-Ibid., 252, 253.
7-Carl E. Baugh, Clifford A. Wilson, Dinosaur (Orange, CA: Promise Publishing CO, 1991), 115.
8-John Whitcomb Jr., The World Perished Baker (Grand Rapids, MI: Baker Book House), 23.
9-Ibid., 25.
10-John C. Whitcomb e Henry M. Morris, The Genesis Flood (Phillipsburg, NJ: Presbiterian and Reformed Publishing, 1992), 22.
11-Gerald W. Wheeler, The Two-Taled Dinosaur (Nashville, TN: Southern Publishing Association), 194.
12-Ellen G. White, Patriarcas e profetas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1976), 108, 109.
13-Wheeler, 116.
14-Harry J. Baerg,  O mundo já foi melhor (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1992), 41, 42.
15-White, Patriarcas e profetas, 107.
16-Ibid., 107.
17- Idem, “O Gênesis e a Geologia”, em Comentario Biblico Adventista del Séptimo Dia, vol. 1.
18-William Loveless, What a Beginning (Washington DC: Review and Herald Publishing Association).
19-George F. Howe,  Speak to the Earth Creation Studies in Geoscience (Presbyterian and Reformed Publishing Company), 225.
20-Duanet Gish e Donald H. Rohrer, Up with Creation (San Diego, CA: Creation Life Publishers), 175.
21-Ibid., 179.
22-White, Patriarcas e profetas, 107.
23-Henrich Reush, A Bíblia e a natureza  (Porto: Livraria Internacional), 2:44.
24-Walter Lammerts, “Select Articles from the Creation”, Research Society Quaterly  1 (1964-1968), 294, 295.
25-Frank Lewis Marsh,  Life, Man and Time  (Out Door Pictures), 122.
26-Arthur C. Custance,  Evolution or Creation? (Grand Rapids, MI, Zondervan Publishing House), 96.
27-Ibid., 98.
28-Harold G. Coffin, Aventuras da criação (Tatuí,SP: Casa Publicadora Brasileira,  1993), 104.
29-Alonzo L. Baker e Francis D. Nichol, The Flood Creation not Evolution (Mountain View, CA: Pacific Press Publishing Association), 61.
30-Ruth Wheeler e Harold G. Coffin, Os dinossauros (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), Mountain View, Califórnia 30.
31-Harold G. Coffin, “O Enigma das Árvores Petrificadas” Revista Diálogo I, 1992, 11.
32-Ibid., 31.
33-Frank L. Marsh, Evolução ou criação especial (Santo Adnré, SP: Casa Publicadora Brasileira), 32.

A propensão humana para o pecado e as tentações de Cristo*




      Teriam sido as tentações de Cristo mais suaves do que as nossas? Se o Salvador não tinha propensão para o pecado, como todos os descendentes de Adão, como poderia Ele ter tido as mesmas provas que nós e ser nosso exemplo? Poderia ter sido gerado em pecado como nós e, ao mesmo tempo, ser sem pecado e ainda nosso Salvador?
      Diante das perguntas acima pretendemos fazer um abordagem, fundamentada basicamente na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White, sobre a situação póslapsariana da humanidade e em que sua situação se assemelha à de Cristo e em que se diferencia. Procuraremos analisar em que base se sustenta a propensão no homem caído e onde está o ponto de tensão, que teria sido igual ou superior em Cristo, apesar da diferença de naturezas entre o pecador e o Salvador. Finalmente, desejamos destacar pontos que demonstrem que Jesus foi mais provado do que nós e teria experimentado mais tensões espirituais, embora sem pecado, seja como ato ou tendência.

A Condição do Homem Após o Pecado



      A condição pecaminosa é universal: Segundo as Escrituras todo ser humano herdou a condição pecaminosa de Adão após a queda e “destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23). Essa situação de pecado é comprovada incontestavelmente pela morte “por isso que todos pecaram” (Rm 5:12).
      Não há exceção: A declaração enfática de que “todos estão debaixo do pecado” (Rm 3:9) leva à conclusão óbvia de que “não há um só justo” (Rm 3:10) e “ninguém que faça o bem” (Rm 3:12).
      Inimizade natural contra Deus e Sua lei: O ser humano, na explanação do apóstolo é “carnal” em oposição à lei que é espiritual (Rm 7:14). Essa condição carnal leva-nos à inclinação contra a lei de Deus e para a morte, desagradando a Deus (Rm 8:6-8).
      A inimizade vem desde o nascimento: Assim a própria natureza humana é corrompida em si mesma desde mesmo o nascimento (Sl 51:5), havendo no indivíduo não convertido um “enganoso coração mais do que todas as coisas e perverso” (Jr 17:9) daí uma inimizade gratuita contra Deus o que o torna “por natureza filho da ira” e morto “em ofensas e pecados” (Ef 2:3-5). Não há ser humano que viva e não peque (Pv 20:9; Sl 14:3; 143:2).
      A condição pecaminosa impede todo ser humano de entender as coisas espirituais po si mesmo: O entendimento humano carnal “não pode compreender as coisas do Espírito de Deus pois lhe parecem loucura; e não pode entende-las, porque elas se discernem espiritualmente” (I Co. 2:14). Sua boas obras não servem para a Salvação (Rm 3:20) e são trapos de imundície (Is 64:6).
      O ser humano não pode escapar dessa situação sozinho: Finalmente, como poderia alguém fazer o bem, ou se o fizesse, ser um bem legítimo se nele “não habita bem algum” e mesmo quando quer realizar o bem não consegue (Rm 7:18) “pois o mal está comigo” (v. 21)? Essa impotência total justifica a declaração de Jesus de que “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15:5).
      Nos apelos naturais para pecar, resultado do nascimento e condição de pecado, é que o ser humano vivencia a posse da “tendência para o pecado”, situação anômala e contrária ao plano original de Deus quando criou o homem numa situação em que “tudo era bom” (Gn 1:31). A natureza do ser humano, pois, na presente realidade que vivemos, é estruturada (ou poderíamos dizer “desestruturada) para pecar. Ela deseja pecar como parte de si mesma. Como alguma coisa essencial à sua satisfação e realização. O pecado é seu ambiente, o único que conhece e entende, de onde por si próprio não pode e nem quer sair.2
      Seria difícil aceitar as declarações acima como referindo-se a Jesus considerando as descrições bíblicas e da igreja acerca de sua especial natureza e impecabilidade3. Ao buscar a solidariedade de Cristo conosco impingido-lhe uma natureza “em pecado” (tendência e condição de pecado) só encontraremos uma tensão contraditória4. Essa solidariedade deve ser procurada na semelhança humana e na vulnerabilidade às mesmas dores que nós, no “habitar” conosco e superar tensões e provas iguais e superiores às nossas, mesmo sem a tendência pecaminosa, e no entanto, vencer como o segundo Adão conferindo Sua vitória e poder restaurador a todos os que o seguem5. É possível ver nas descrições bíblicas que as provas de Jesus foram superiores não somente às de Adão mas também superiores mesmo às da humanidade caída (Hb 2:14-18; 4:15), conforme trataremos na última parte deste trabalho.

A Operação da Tendência para o Pecado Comparada com  as Provas de Cristo


      A tendência para pecar se tornou após a queda de Adão tão poderosa na vida humana como se fosse essencial à própria vida, sua natureza, então integrou-se às mais fortes necessidades do ser humano como o alimento material, necessidades fisiológicas, segurança, reprodução e realização pessoal. O apóstolo Paulo (Rm 7) demonstra a força do pecado no ser humano operando “nos seus membros” provocando desejos contrários à vontade espiritual da lei. Os desejos são do pecado e para o pecado. Procedem de dentro.
      Nas tentações de Cristo não há desejos para pecar ou intensões impuras. Em Jesus há o conflito de renunciar a desejos naturais6 e inocentes porque estes, se satisfeitos naquele contexto, estariam em confronto com a vontade do Pai. Assim o desejar beber e comer, descansar ou sobreviver não deveria ser satisfeito sem a completa dependência de Deus. Jesus não deveria salvar-se a si mesmo ainda que podendo faze-lo Deveria abrir mão da vida e auto-preservação. Deveria renunciar aos desejos naturais e lícitos de sua natureza sem pecado e ao faze-lo estaria numa luta tão intensa contra si mesmo ao renunciar: uma renúncia tão ou mais intensa como a de qualquer outro ser humano que renuncia a si mesmo e à força de sua própria natureza pecaminosa. Precisou exercer “autodomínio mais forte do que a fome e a morte”; precisou avançar quando sua “natureza” desejava recuar7. Jesus renunciou a si mesmo sob pressão das necessidades físicas e emocionais de um ser humano sem pecado. Suportou numa natureza não caída e corpo de capacidade reduzida a pressão que Adão não esteve disposto a resistir num corpo e mente superior. 
      O homem após a queda, quando auxiliado pela graça de Deus, em dependência do poder do Espírito Santo,  pode renunciar a uma natureza caída com seus desejos. A base do conflito é renúncia e dependência de Deus. Jesus deveria  “sozinho” e “sem haver ninguém que o ajudasse”8 renunciar e depender na condição de  segundo Adão, levando a  natureza sem pecado, mas ao mesmo tempo e no mesmo corpo  a fraqueza física e psicológica conseqüente do enfraquecimento da raça.
      A “revanche do deserto” onde Cristo como o segundo Adão entrou e recuperou a batalha perdida pelos primeiros pais “no lugar” na “mesma prova” de Adão9  foi uma vitória tão grande como o fracasso do primeiro par10. Nas tentações do deserto Jesus recupera o reino espiritual (e material) vencendo pela superação de necessidades materiais e em situação extrema, e sem ajuda11 (Is 63:1-5) os mais fortes apelos que a natureza humana pode suportar e, até superando os apelos naturais da própria existência ao ponto de ao fim do conflito ser necessária a assistência dos anjos, diante do eventual risco de vida, tal a severidade da prova (Mt 4:11).12
      A equivalência da prova de renúncia das necessidades materiais, especialmente considerando o escopo especial do combate no deserto, demonstra, sem dúvida, que a vitória espiritual de Jesus está biblicamente sustentada na superação da condescendência com apetites do corpo e da mente. Assim, os apelos do corpo e da mente, veículos para provocar a queda de Adão, mantém relação direta e necessária com o episódio da queda e da redenção.13
      É a ausência do domínio dos desejos e necessidades do corpo a base da fraqueza humana hoje, e que somente pode ser recuperado pelo poder do Espírito (Gl 5:22) que opera nos que receberam a justiça de Cristo. É a atribuição ao pecador do caráter perfeito dAquele que colocou o Pai em primeiro lugar e acima mesmo de Suas mais vitais e naturais necessidades. 

A Pressão da Renúncia do Eu no Cristão e em Jesus


      No caso do homem caído, além das necessidades naturais e lícitas para a existência e realização, uma outra lei natural entra em vigor: a lei do pecado que opera nos seus membros (Rm 7), como o faz todos os imperativos lícitos e naturais para a vida. O agravante é que a “lei do pecado”, esse domínio tirânico e naturalmente irresistível que nos leva a pecar submete todos os imperativos inocentes da vida como a alimentação, segurança, realização e outros. Todas as necessidades naturais estão submetidas pela tendência para pecar, o desejo de pecar, a concupiscência, onde todo pecado e corrupção tem início, seja tal pecado praticado dentro ou fora da igreja (Tg 1:13, 14; 4:1-3; II Pd 1:4). Assim, a resistência à necessidade de pecar é tão severa como a renúncia da própria vida pois renuncia a tudo que a tendência caída domina. Não é à toa que é chamada de “morte”. Estar sem o poder libertador de Cristo é estar morto (Ef 2:1). Libertar-se pelo poder de Cristo é morrer para o pecado e nascer de novo (Rm 6). É, pois, bem apropriada a linguagem da Bíblia que descreve uma situação dramática e real: a conversão é morrer renunciando todo o eu pecador e mesmo às necessidades naturais por ele dominadas. Dessa forma, para Jesus recuperar a falha de Adão e as nossas significou, não a luta contra uma natureza caída que Ele não tinha e nem podia ter, entendendo o pecado essencial que essa tendência implica conforme demonstramos (seria difícil imaginar Jesus admitir que nele “não havia bem algum” ou que “o mal” estava com Ele, ou que ao nascer era “destituído da glória de Deus” como todos os demais homens). Mas Jesus, não tendo a natureza tendente ao pecado para ser dominado por ela, poderia ser, como foi Adão (também sem tendência para o pecado) no Éden, dominado pelas próprias necessidades naturais na tentativa de leva-lo a, como fez com Adão14, desconfiar de Deus, cobiçar o fruto e o conhecimento vedados e finalmente pecar. Deveria, portanto, “mostrar, no conflito com Satanás, que o homem, tal como Deus o criou, unido ao Pai e ao Filho, poderia obedecer a todo reclamo divino.”15

Limitações Decorrentes de Sua Missão Levaram-no a Renúncias Equivalentes às Nossas16

      Assim que,  Jesus tendo sido tentado “como nós” e  “mais do que nós”, não pôde defender a e nem requerer para si mesmo o que naturalmente lhe era de direito como homem e Deus mas renunciou a todas as coisas e “esvaziou-se” (Ef 2:1-8) para que pudesse ser o Redentor da humanidade. Uma vez que a tendência para o pecado é “natural” no ser humano caído,  é nesse plano da inclinação pecaminosa que Satanás opera seu cativeiro na humanidade.
      O Adversário, não tendo em Cristo um cativo vítima da propensão ou concupiscência do eu para o pecado,  deveria buscar outro módulo de ação no qual ou através do qual, se possível17,  pudesse ter acesso àquele que declarou acerca de Satanás: “nada tem em mim” (Jo 14:30). Satanás deveria buscar que Jesus decidisse desobedecer a Deus não através de compulsão interior para o mal como ocorre conosco mas através do exercício de Seus direitos naturais que lhe estavam vetados, a exemplo de usar a divindade transformando pedra em pães para saciar a fome, coisa muito natural para Jesus embora sobrenatural para nós! Natural tornar pedra em pães e natural saciar a fome! Mais do que um direito, uma necessidade! Natural para alguém extremamente fragilizado buscar segurança e escapar da dor, humilhação e morte. Natural e necessário para o corpo e a mente em agonia receber e aceitar a proposta de ter o reino de volta sem a morte. Natural recuar diante de um conflito maior do que a Sua humanidade – conflito em favor de toda a raça humana – a morte eterna  em lugar de todos, e retornar para as delícias junto ao Pai. Muito natural soprar e varrer do planeta a impiedade dos homens e anjos maus que o desonravam e contra Ele blasfemavam, mas o tempo para esse tipo de juízo ainda não havia chegado. 
      Certamente a renúncia de Jesus abrangia também todas as satisfações da vida humana e direito de fazer uso de poder divino para si. 18Para viver restou-lhe apenas uma “comida e bebida”: “fazer a vontade do meu Pai” (Jo  4:34). A situação, portanto, poderia ser colocada assim: a angústia física e mental de um corpo humano fragilizado (pela renúncia de Suas naturais necessidades e até do exercício do poder divino) era o caminho para que Satanás tentasse induzir Jesus a desobedecer a Deus (situações como em Mt 4, descer da cruz entre outras)19.
      Conosco o plano de investida do inimigo, mesmo em pessoas convertidas é explorar os apelos naturais do homem caído (Tg 1:14; 4:1, 2) aos quais nos cabe renunciar em favor da vontade de Deus. Em nós renuncia-se a natureza de pecado e seus apelos contrários à santidade de Deus, mas, em Cristo, renuncia-se às necessidades de um corpo fragilizado embora possuindo natureza sem pecado e também o uso de Seu natural poder divino, uma vez que qualquer dessas alternativas seriam pecado ainda que “por um pensamento”,  mesmo em face da morte. 20Em resumo:
a)      Os pontos de investida eram diferentes (tendência para pecar em nós x desejo para satisfazer necessidades naturais e inocentes em Jesus).
b)      A base de resistência era a mesma (renúncia total do eu21 em favor da vontade de Deus e entrega total aos seus cuidados).
c)      A força da tentação era a mesma (os apelos da natureza: em nós interiormente para pecar x em Cristo os apelos exteriores parar satisfazer necessidades naturais e inocentes – comida, alívio da dor – e isto, muitas vezes, em condições extremas!).
Assim, Jesus sofreu, por outro caminho e conheceu por outro modo, as mesmas pressões que nós que temos compulsão pecaminosa. Ele, porém, sem tal propensão para o pecado!



 Comparação das Tentações de Cristo  Com as Nossas Tentações


      Consideremos, agora,  a superioridade das provas e tentações de Jesus sobre nós em quatro aspectos, considerando-o como ser humano que precisava enfrentar em nossa condição enfraquecida o teste da renúncia do eu para fazer a vontade do Pai.

      As intensidades de nossas tentações e as de Jesus são apresentadas na Bíblia como diferentes (I Co 10:13). Nessa passagem a tentação pela qual passamos, como pecadores, é apenas “humana” sugerindo que existe uma tentação maior do que a que experimentamos. A declaração é que cada pessoa será tentada de acordo com suas forças para que possa vencer, nunca será tentada mais do que pode resistir: “não vos deixará tentar acima do que podeis”. Além disso, garante a Bíblia, Deus proverá o “escape”. Por outro lado, se alguém depois de todo esse amparo divino ceder antes de alcançar a tensão máxima, conforme a capacidade de resistência que lhe foi dada, receberá a assistência especial do Advogado (I Jo 2:1). Jesus não teve sua prova aliviada e nem poderia pecar, sob pena de não ter uma segunda chance. Sua prova vai além dos cem por cento da capacidade humana porque Ele sofreu o que está além do ser humano suportar.22 Sua tentação era “tanto maior quanto Seu caráter era superior ao nosso”. 23

      A magnitude da Sua Missão e responsabilidade era um peso adicional que nós não carregamos. Jesus deveria levar os pecados “do mundo” e tomar nossas “dores e enfermidades” (Is 53). Sua preocupação não se restringia a uma vitória calcada em razões pessoais para um escopo pessoal. Sua luta era representativa de Adão e neste de toda humanidade. E mais do que a humanidade Ele deveria representar o caráter perfeito de Deus perante todo o universo inteligente. Nosso fracasso é individual e pode afetar outros mas sempre será um fracasso pessoal pois ele não é determinante, em termos absolutos, dos destinos dos outros. A raça humana ou o caráter de Deus não dependem exclusivamente do meu testemunho. A vida de Jesus era o único fator determinante para a redenção da humanidade e para a vindicação do caráter do Pai. Com um conflito de implicações e significados tão vastos não é difícil perceber que Sua prova possuía uma magnitude maior do que a nossa.
      O Salvador sofria qualitativamente mais que nós. Jesus era constituído de uma natureza pura e consequentemente refratária ao pecado. Sua natureza aspirava santidade e verdade. Estava, no entanto, num mundo de pecado e mentira.  Ninguém jamais “odiou” o pecado como Ele. Ninguém jamais vivenciou um contraste tão contundente contra o pecado como Jesus24. “Ó geração incrédula e perversa. Até quando estarei eu convosco e até quando vos sofrerei?” (Mt 17:17).   Permanecer num mundo de pecado era um fardo adicional para Sua natureza sem pecado não apenas pela contínua agressão que isso significava mas também pelo motivo a mais que tal circunstância oferecia para sugerir o desvio de Sua Missão redentora até o fim. Além do mais Ele estava exposto a todas a “forças da confederação do mal”.25 Talvez a nossa adaptação ao pecado não nos permita sentir o desconforto de viver neste mundo mas para Jesus este lugar lhe era uma contínua agressão pela generalização da iniquidade.
      Também sofreu quantitativamente mais do que todos. Algumas tentações Jesus tinha e nós não as temos: em várias ocasiões foi tentado a usar sua divindade para conseguir alimento, deixar de beber o cálice do sacrifício, livrar-se dos seus algozes, descer da cruz. Apelos que nada significam para nós que não temos poder divino. Ele era tentado a desistir de redimir o homem e voltar para as cortes celestiais. Esse tipo de tentação nós também não temos.

Conclusão

      Concluímos esta abordagem entendendo que todo o homem nasce pecador e sob o domínio do pecado, não porém Jesus, que tendo nascido de forma sobrenatural nasceu santo, sem pecado e “separado dos pecadores”. Isso era necessário para que Ele mesmo não estivesse na condição de perdido e precisasse de Redentor. No entanto, Sua natureza sem pecado não lhe ofereceu vantagem sobre nós devido às limitações decorrentes de Sua Missão. Ele precisou renunciar às necessidades e desejos lícitos, inocentes e fundamentais de Sua humanidade perfeita num corpo fragilizado,  sentindo a dor da renúncia, dor esta que todos nós pecadores precisamos experimentar ao renunciarmos nossa natureza caída e seus condenáveis desejos.
      Tendo passado por tudo que passamos o Salvador possuía tentações que não temos, sensibilidade que desconhecemos tornando Seu sofrimento mais agudo, pressões mais intensas e sem limite além de pesar-lhe a vida do mundo e a resposta esperada pelo universo.
      Premido pela impossibilidade de uma segunda  chance o Senhor não teria um advogado caso pecasse. Daí concluímos que a natureza sem propensão para o pecado, embora um qualificativo indispensável para que fosse o novo representante da raça humana, para ser o segundo Adão,  o faz passar por uma renúncia muito maior do que a nossa que somos convidados a renunciar o pecado, dor e morte, mesmo considerando seus efêmeros prazeres mas tendo o recurso do arrependimento, enquanto Jesus, como o segundo Adão, não podia cometer qualquer erro.
      Se nós sabemos o que é desejar o proibido por causa de nossas vis propensões e não tê-lo pois seria pecado, Ele também sabe o que é ser vedado ter o que desejava (ainda que não desejasse o errado) pois isso seria comprometer a nossa salvação e a vontade do Pai. Ele sabe o que é renunciar a si mesmo, e o muito que tinha, para nos salvar, assim como nós sabemos o que é renunciar o pouco que temos e o que somos em nossas tendências más, para nossa própria salvação (e isso pela Graça).
      Finalmente, sendo tentado em tudo como nós e mais do que nós, mas sem pecado, se tornou o nosso Modelo Divino, em lugar do primeiro Adão, do que Deus esperava que o homem fosse “física e espiritualmente” quando em harmonia  com a lei de Deus.26




Notas

*Este artigo é da autoria de Demóstenes Neves da Silva, mestre em Teologia e professor do SALT/IAENE.
  1. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas (PP) (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1979), 45, 312 e Desejado de Todas as Naçoes (DTN)  (Santo André, SP: Casa publicadora Brasileira, 1979), 108
2.       Esse pensamento pode ser encontrado em várias passagens  da literatura da igreja primitiva assegurando a Sua natureza sem propensão para o pecado: 1) “...em Jesus Cristo recuperamos o que foi perdido em Adão, ou seja, o sermos a imagem e semelhança de Deus... Irineu. Adv. Haer. Henry Bettenson, editor,  Documentos da Igreja Cristã (DIC), 3ª ed. (SP: ASTE – Sociedade Religiosa Edições Simpósio, 1998), 69. 2) “Habitando entre nós comunicou-nos a genuína incorruptibilidade...” Ibid., 71. 3) ...”o Senhor...recapitula (resume)  em si o homem original...” Ibid., 70. 4) Nasceu da virgem que não conheceu concupiscência por um novo e portentoso modo, tomando dela a natureza mas não a culpa. Ibid., 100. 5) Já Bettenson, comentando no Credo Niceno (de Cesaréia) aperfeiçoado pelo Concílio de  Nicéia em 325, o termo “alterável”, declara que  refere-se a Jesus não ser moralmente alterável o que seria anátema (atréptôs), esclarece ainda o termo “enanthôpêsanta – tomando sobre si tudo aquilo que faz homem ao homem, alargando sarkhôthénta, fez-se carne, ou, talvez, viveu como homem entre os homens...” Sendo assim Jesus herdou as características humanas necessárias para ser identificado como tal, uma natureza que não foi alterada moralmente em momento algum, segundo o Credo de Nicéia. Ibid., 69. 6) O Tomo de Leão ou Definição de Calcedônia,  declara que Cristo não tinha em sua natureza humana as propriedades produzidas pela queda (herdadas) e adquiridas. Sua natureza era “perfeita” de homem verdadeiro. Tinha fraquezas mas não culpa, nem mácula, nada tinha “das propriedades que trouxe para dentro de nós o sedutor” (Ibid., 97). Atanásio (296 a 373) em sua obra De Incarnatione, 328 AD, diz que Ele tomou corpo mortal, entretando ïncorruptível” para que a corrupção cessasse revestindo-se de sua incorrupção (apesar de, no texto, aparentemente alegar a divindade para tal incorrupção). Ibid., 75. 8) Nos debates contra o semipelagianismo aparece a idéia de que a liberdade humana teria se tornado tão depravada pelo pecado que sem a graça ninguém amaria, creria ou faria o que é reto para o que se dá várias passagens bíblicas. Se Jesus herdasse a natureza caída do homem, certamente estaria sob o domínio do pecado e não poderia se livrar por si mesmo, carecendo ele mesmo de um Salvador. Ibid., 116.  
  1. Sua superioridade ética e espiritual é descrita, como uma condição mais do que desempenho, de forma contundente no escritos de Ellen White e nas Escrituras que declaram que ao nascer, em vez de em pecado (Sl 51:5), nasceria um “santo” (Lc 1:35 );  que “nele não há pecado” (I Jo 3:5) e que “o príncipe deste mundo ‘nada’ tem em Mim” (Jo 14:30).  Nele havia “perfeita ausência de pecado”, “caráter sem pecado”  conf. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. I (1ME) (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1966) 256, 264. Não participou do pecado nem por “um pensamento” e não recebeu “nenhuma contaminação” ao se tornar homem. Seu corpo foi “preparado” por Deus: DTN, 109, 244, 264, (Mt 1:20-23)). Foi tentado em tudo “mas sem pecado” (Hb 4:15), feito sacerdote “segundo a virtude da vida incorruptível” (Hb 7:16), “inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus”, que não necessitou oferecer sacrifícios por seus próprios pecados, que, em oposição a “homens fracos”  era  “Filho perfeito para sempre” (Hb 7:26,27).  Que se ofereceu “imaculado” a Deus (Hb 9:14). Seu sangue e corpo tem poder santificador (Hb 10:10; 12:12). Seu sangue, diferente de pessoas justificadas,  fala melhor do que a do “justo” Abel (Hb 12:24; 11:4).
  2. I Co 15:45-49 declara que o primeiro Adão legou-nos (após o pecado) a imagem terrena e carnal, ao contrário do segundo Adão (Jesus) que legou-nos sua imagem espiritual. O primeiro era da Terra mas o segundo era do Céu. Agora temos a imagem do terreno mas depois (na ressurreição, que é o contexto deste capítulo) receberemos a imagem do celestial (sem pecado, redimida) isto é, a de Jesus.  Veja também Rm 5:12-19. “Venceu Satanás com a mesma natureza sobe a qual Satanás havia obtido a vitória no Éden.” The youth’s Instructor, 25 de abril de 1901.
  3. “ambicionava” alimento, DTN, 104.
  4. DTN, 103.
  5. 1ME, 272.
  6. Ibid., 267, 272.
  7. Ibid., 288; DTN, 114.
  8. 1ME, 279.  “...Cristo sabia que Adão, no Éden, com sua superiores vantagens, poderia ter resistido às tentações de Satanás, vencendo-o. Sabia também que não era possível ao homem, fora do Éden, separado, desde a queda, da luz e do amor de Deus resistir em suas próprias forças às tentações de Satanás.” Da mesma forma que Adão no Éden Cristo batalhou sozinho. Sua natureza permaneceu diferente da nossa após a queda: sem pecado. Se sua natureza fosse a mesma após a queda Ele não poderia vencer “sozinho”. Podemos vencer como ele venceu mas pela “Sua graça”. Uma vez que Ele venceu, aqueles que nEle crêem recebem sua vitória e o poder que santifica. 1ME, 226. Veio para redimir “a falha de Adão” e assim toda a sua descendência. DTN, 102.
  9. DTN, 115.
  10. 1ME, 271, 272.
  11. DTN, 104.
  12. 1ME, 253
  13. Deus lhe vedou o caminho suave: “é necessário que o Filho do homem padeça...”  Era o “Homem de dores” (Is 53:3). Apesar de ser parte de Sua pessoa, Jesus não deveria usar a divindade para benefício próprio pois o homem não poderia faze-lo, além disso o Seu caminho deveria ser de renúncia daquilo que todos os homens neste mundo têm como natural para a própria vida: não possuía projetos pessoais para este mundo. Deveria renunciar ao conforto e privilégios, até mesmo à comida e à vida e até mesmo ao exercício de Sua Eterna Divindade para cumprir sua Missão. A Redenção impedia-o de pensar no “bem-estar” do Filho do homem. Sua vida deveria ser de “tristeza, dificuldades e conflitos” e Satanás faria sua vida o “mais amarga possível”. 1ME, 286. Sua prova foi “mais cerrada e mais severa do que as que jamais seriam impostas ao homem.” Ibid., 289.
  14. A possibilidade de pecado em Cristo era tão real como o foi em Adão. DTN, 41, 103, 115, 660.
  15. 1ME, 276
  16. DTN, 106
  17. 1ME, 211, 220
  18. “Meu Pai: se possível, passe de mim este cálice! Todavia não seja como eu quero, e, sim, como tu queres ” (Mt 26:39). Se alguém quer vir após mim a si mesmo se negue,  tome a sua cruz e siga-me.” (Mt 16:24-26).
  19. Roy Adams. The Nature of Christ. (USA: Reviw and Herald Publishing Association,  1994), 73-85. Discute acerca da suposta vantagem de Cristo sobre nós. Sua posição é que Jesus sofreu a força total da tentação enquanto nós recebemos apenas uma parte. Usando o que ele chama de “Escala Richter de Tentação”, adaptando a que é usada para terremotos, Adams, representa  graficamente a declaração de I Co 10:13. Concordamos com a ilustração considerando que não foi a cruz que matou a Cristo afinal, mas a tensão da prova que lhe rompeu o coração (DTN, 741). Assim, não foi a tensão total (conteúdo) que um homem suportaria, foi maior, a ponto de romper o continente. Quebrou-se a escala. O abalo foi mais forte do que o suportável. A dor estava além da capacidade humana. Nesse caso a intensidade não veio sob medida, não pode ser avaliada. Foi “infinita” (Ibid., 743).
  20. DTN, 102.
  21. 1ME, 254.
  22. DTN, 101.
  23. Se nosso alvo é a estatura de Cristo (Ef 4:13), nosso Modelo (1ME, 338), como poderíamos vê-lo como alguém com as mesmas tendências mórbidas para o pecado que nós? Ã parte dos momentos de conflito em que sua aparência foi desfigurada (Is 53; DTN, 103)  e dos efeitos redutores de sua capacidade física devido aos fatores hereditários,  Jesus era sem defeito “físico ou espiritual” (DTN, 42).