Artigo extraído
integralmente de: DORNELES Vanderlei(Ed.), Comentário Bíblico Adventista do
Sétimo Dia, Vol. 4, Série LOGOS, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, p.
927, 928. As notas de rodapé não constam no doumento original. Acrescentei-as
para facilitar a compreensão de alguns conceitos e referências.
O Sacrifício Diário
Sacrifício diário.
Do heb[i]. tamid,
palavra que ocorre 103 vezes no AT[ii],
usada tanto como advérbio quanto como adjetivo. Indica algo “contínuo” ou que
dura “continuamente”, e se aplica a vários conceitos, como emprego contínuo (Ez
39:14), sustento permanente (2Sm 9:7-13), tristeza contínua (Sl 38:17),
esperança contínua (Sl 71:14) provocação contínua (Is 65:3), etc. É usada, com
frequência, em relação ao ritual do santuário para descrever várias
características de seus serviços regulares, como o “pão contínuo” que era
mantido sobre a mesa da preposição (Nm 4:7), a lâmpada que devia estar acesa
continuamente (Êx 27:20), o fogo que devia ser mantido aceso no altar (Lv
6:13), os holocaustos que deviam ser oferecidos dia após dia (Nm 28:3,6) e o
incenso que devia ser oferecido de manhã e à tarde (Êx 30:7,8). A palavra em si
não significa “diariamente”, mas simplesmente “contínuo” ou “regular”[iii].
Das 103 ocorrências, ela é trazida na ARA[iv] como
“diário” apenas nas cinco ocorrências em Daniel (8:11,12,13; 11:31; 12:11). A
ideia de “diário” se derivou, evidentimente, não da palavra em si, mas daquilo
com o que estava associada.
Em Daniel 8:11, tamid
tem o artigo definido[v] e,
portanto, é usado como adjetivo. Além disso, se apresenta independentemente,
sem um substantivo. No Talmude[vi] quando
tamid é usado de forma independente, como neste caso, a palavra denota o
sacrifício diário. Os tradutores[vii] das
versões que acrescentam a palavra “sacrifício”, obviamente entenderam que o
holocausto diário era o tema da profecia.
Quanto ao
significado de tamid, nesta passagem, há três pontos de vista
principais:
1. O termo “diário” se refere exclusivamente aos sacrifícios
oferecidos no templo em Jerusalém. Alguns eruditos que defendem esta ideia
aplicam a retirada do “diário” à interrupção do serviço do templo por Antíoco
Epifânio, por um período de três anos, 168-165 ou 167-164 a.C. (ver com. de Dn
11:14[viii]).
Outros a aplicam à desolação do templo pelos romanos, em 70 d.C.
2. O termo “diário” significa “paganismo”, em contraste com
a “abominação desoladora” (Dn 11:31), ou o papado. Ambos os termos identificam
poderes perseguidores. A palavra para “diário”, com o significado correto de
“contínuo”, se refere à longa continuidade da oposição de Satanás à obra de
Cristo por meio do paganismo. A retirado do diário e o estabelecimento da
“abominação desoladora” representa a Roma papal substituindo a Roma pagã, e
esse evento é o mesmo descrito em 2 Tessalonissences 2:7 e Apocalipse 13:2.
3. O termo “diário” (“contínuo”) se refere ao ministério
sacerdotal contínuo de Cristo no santuário celestial (Hb 7:25; 1Jo 2:1) e à
verdadeira adoração de Cristo na era do evangelho. A retirada do “diário”
representa a substituição pelo papado da união voluntária de todos os crentes
em Cristo pela união obrigatória com a igreja visível (o papa) no lugar de
Cristo, a cabeça invisível da igreja, de uma hierarquia sacerdotal no lugar do
acesso direto a Cristo para todos os crentes, de um sistema de salvação por
obras ordenadas pela igreja no lugar da salvação pela fé em Cristo e, mais
particularmente, do confessionário e da missa no lugar da obra mediadora de
Cristo como sumo sacerdote nas cortes celestiais. Este sistema desviou por
completo a atenção do ser humano de Cristoe, assim, o privou dos benefícios de
Seu ministério.
Além disso, visto
que esse terceiro ponto de vista defende que o “chifre pequeno” é um símbolo da
Roma imperial bem como da Roma papal (ver com. dos v.9,13[ix]),
previsões com respeito a suas atividades podem ser compreendidas como aplicadas
à Roma pagã, bem como à Roma papal. Assim o “diário” pode também se referir ao
templo terrestre e a seus serviços; e
retirada do “diário” pode apontar para a desolação do templo pelas
legiões romanas, em 70 d. C. e a consequente cessação dos serviços sacrificais.
Foi a esse aspecto da atividade da “abominação desoladora” que Cristo se
referiu ao falar dos eventos então futuros (ver com. de Dn 11: 31[x]; cf.
Mt 24:15-20; Lc 21:20).
Ao comentar sobre
esses três pontos de vista, pode-se dizer que o primeiro fica descartado pelo
fato de Antíoco não se ajustar aos períodos de tempo ou as outras
especificações desta profecia (ver com. de Dn 9:25[xi]).
Tanto a segunda
interpretação quanto a terceira são defendidas por eruditos adventistas,
contudo a terceira tem mais aceitação. Alguns consideram que o “diário” se
refere ao paganismo, e outros que o “diário” se refere ao ministério sacerdotal
do Senhor. Talvez essa seja uma das passagens das Escrituras acerca da qual é
preciso ainda mais luz a fim de se chegar a uma conclusão definitiva. Assim
como ocorre com outras passagens difíceis das Escrituras, a salvação não
depende do entendimento completo do significado de Daniel 8:11 (sobre o
desenvolvimento histórico do segundo e do terceiro pontos de vista, ver p.
47-52[xii]).
[i] Abreviação de hebraico
[ii] Abreviação do Antigo Testamento
[iii] Eis a sugestão de uma boa
ferramenta para ver o significado da palavra “tamid”: www.StepBible.org.
[iv] Almeida Revista e Atualizada
[v] Em Dn 8:1 a palavra hatamid,
ha=artigo definido e tamid=substantivo “contínuo”, torna-se um adjetivo pela
junção do artigo definido.
[vi] Compilações judaicas que abrangem a
Mishnah, ou ensinos orais dos judeus, e a Gemara, coleção de comentários
rabínicos sobre a Mishnah.
[vii] De referir que a IASD não possui
uma tradução própria e, portanto, não é a responsável por este acréscimo.
[viii] Ver esta referência no Comentário
Bíblico Advetista
[ix] Ver esta referência no Comentário
Bíblico Adventista
[x] idem
[xi] idem
[xii] Referência ao Comentário Bíblico
Adventista, Vol 4 (Comentário de Isaías a Malaquias)
Sem comentários:
Enviar um comentário