sábado, 7 de dezembro de 2013

O Sacrifício "diário"

Artigo extraído integralmente de: DORNELES Vanderlei(Ed.), Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, Vol. 4, Série LOGOS, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, p. 927, 928. As notas de rodapé não constam no doumento original. Acrescentei-as para facilitar a compreensão de alguns conceitos e referências.

O Sacrifício Diário
Sacrifício diário. Do heb[i]. tamid, palavra que ocorre 103 vezes no AT[ii], usada tanto como advérbio quanto como adjetivo. Indica algo “contínuo” ou que dura “continuamente”, e se aplica a vários conceitos, como emprego contínuo (Ez 39:14), sustento permanente (2Sm 9:7-13), tristeza contínua (Sl 38:17), esperança contínua (Sl 71:14) provocação contínua (Is 65:3), etc. É usada, com frequência, em relação ao ritual do santuário para descrever várias características de seus serviços regulares, como o “pão contínuo” que era mantido sobre a mesa da preposição (Nm 4:7), a lâmpada que devia estar acesa continuamente (Êx 27:20), o fogo que devia ser mantido aceso no altar (Lv 6:13), os holocaustos que deviam ser oferecidos dia após dia (Nm 28:3,6) e o incenso que devia ser oferecido de manhã e à tarde (Êx 30:7,8). A palavra em si não significa “diariamente”, mas simplesmente “contínuo” ou “regular”[iii]. Das 103 ocorrências, ela é trazida na ARA[iv] como “diário” apenas nas cinco ocorrências em Daniel (8:11,12,13; 11:31; 12:11). A ideia de “diário” se derivou, evidentimente, não da palavra em si, mas daquilo com o que estava associada.
Em Daniel 8:11, tamid tem o artigo definido[v] e, portanto, é usado como adjetivo. Além disso, se apresenta independentemente, sem um substantivo. No Talmude[vi] quando tamid é usado de forma independente, como neste caso, a palavra denota o sacrifício diário. Os tradutores[vii] das versões que acrescentam a palavra “sacrifício”, obviamente entenderam que o holocausto diário era o tema da profecia.
Quanto ao significado de tamid, nesta passagem, há três pontos de vista principais:
1.    O termo “diário” se refere exclusivamente aos sacrifícios oferecidos no templo em Jerusalém. Alguns eruditos que defendem esta ideia aplicam a retirada do “diário” à interrupção do serviço do templo por Antíoco Epifânio, por um período de três anos, 168-165 ou 167-164 a.C. (ver com. de Dn 11:14[viii]). Outros a aplicam à desolação do templo pelos romanos, em 70 d.C.
2.    O termo “diário” significa “paganismo”, em contraste com a “abominação desoladora” (Dn 11:31), ou o papado. Ambos os termos identificam poderes perseguidores. A palavra para “diário”, com o significado correto de “contínuo”, se refere à longa continuidade da oposição de Satanás à obra de Cristo por meio do paganismo. A retirado do diário e o estabelecimento da “abominação desoladora” representa a Roma papal substituindo a Roma pagã, e esse evento é o mesmo descrito em 2 Tessalonissences 2:7 e Apocalipse 13:2.
3.    O termo “diário” (“contínuo”) se refere ao ministério sacerdotal contínuo de Cristo no santuário celestial (Hb 7:25; 1Jo 2:1) e à verdadeira adoração de Cristo na era do evangelho. A retirada do “diário” representa a substituição pelo papado da união voluntária de todos os crentes em Cristo pela união obrigatória com a igreja visível (o papa) no lugar de Cristo, a cabeça invisível da igreja, de uma hierarquia sacerdotal no lugar do acesso direto a Cristo para todos os crentes, de um sistema de salvação por obras ordenadas pela igreja no lugar da salvação pela fé em Cristo e, mais particularmente, do confessionário e da missa no lugar da obra mediadora de Cristo como sumo sacerdote nas cortes celestiais. Este sistema desviou por completo a atenção do ser humano de Cristoe, assim, o privou dos benefícios de Seu ministério.
Além disso, visto que esse terceiro ponto de vista defende que o “chifre pequeno” é um símbolo da Roma imperial bem como da Roma papal (ver com. dos v.9,13[ix]), previsões com respeito a suas atividades podem ser compreendidas como aplicadas à Roma pagã, bem como à Roma papal. Assim o “diário” pode também se referir ao templo terrestre e a seus serviços; e  retirada do “diário” pode apontar para a desolação do templo pelas legiões romanas, em 70 d. C. e a consequente cessação dos serviços sacrificais. Foi a esse aspecto da atividade da “abominação desoladora” que Cristo se referiu ao falar dos eventos então futuros (ver com. de Dn 11: 31[x]; cf. Mt 24:15-20; Lc 21:20).
Ao comentar sobre esses três pontos de vista, pode-se dizer que o primeiro fica descartado pelo fato de Antíoco não se ajustar aos períodos de tempo ou as outras especificações desta profecia (ver com. de Dn 9:25[xi]).
Tanto a segunda interpretação quanto a terceira são defendidas por eruditos adventistas, contudo a terceira tem mais aceitação. Alguns consideram que o “diário” se refere ao paganismo, e outros que o “diário” se refere ao ministério sacerdotal do Senhor. Talvez essa seja uma das passagens das Escrituras acerca da qual é preciso ainda mais luz a fim de se chegar a uma conclusão definitiva. Assim como ocorre com outras passagens difíceis das Escrituras, a salvação não depende do entendimento completo do significado de Daniel 8:11 (sobre o desenvolvimento histórico do segundo e do terceiro pontos de vista, ver p. 47-52[xii]).


[i] Abreviação de hebraico
[ii] Abreviação do Antigo Testamento
[iii] Eis a sugestão de uma boa ferramenta para ver o significado da palavra “tamid”: www.StepBible.org.
[iv] Almeida Revista e Atualizada
[v] Em Dn 8:1 a palavra hatamid, ha=artigo definido e tamid=substantivo “contínuo”, torna-se um adjetivo pela junção do artigo definido.
[vi] Compilações judaicas que abrangem a Mishnah, ou ensinos orais dos judeus, e a Gemara, coleção de comentários rabínicos sobre a Mishnah.
[vii] De referir que a IASD não possui uma tradução própria e, portanto, não é a responsável por este acréscimo.
[viii] Ver esta referência no Comentário Bíblico Advetista
[ix] Ver esta referência no Comentário Bíblico Adventista
[x] idem
[xi] idem
[xii] Referência ao Comentário Bíblico Adventista, Vol 4 (Comentário de Isaías a Malaquias)

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